Saturday, December 15, 2007

folhas velhas em águas turvas


Não se pode dizer que seja a coisa em si, mas o conceito.
É ele que ensombra a memória e a faz recuar ao desconforto do gelo nos dedos dos pés apertados nos sapatos de calçar ao domingo. Mas é no aqui e no agora que o frio permanece, sem que o tempo consiga esclarecer-se, enquanto eu estava de mão dada a outra mão maior e não conseguia dizer que o frio me apoquentava.
É também a ideia que aparece na memória a esmagar os risos depois das horas de brincadeira; uma ideia que fustiga as possibilidades do bem-estar sem culpas.
O mundo dos adultos era um lugar estranho visto de todos os ângulos; para quê então a pressa de crescer, naquela altura?

Hoje nada disso interessa. As personagens vão saindo de cena e nada mais fica para além da memória dos dias distantes, resolvidos quase sempre, mas fazendo parte de um todo que se alonga com o passar dos tempos.

4 comments:

António Gomes said...

Nunca mais encontrei o límpido e cristalino do tempo, ser mais velho era ter bigode, hoje não faz jus ao conceito, envelhecer em conceitos do antigo é descabido... quantas vezes nos descabemos em nós.

mfc said...

Sempre quisemos crescer antes do tempo... e sempre quisemos que o tempo voltasse para trás depois de passado o tempo.

Fatyly said...

Mas há que clarificar e purificar as águas e tornar os dias menos angustiantes.

addiragram said...

Se esses "aqui e agora" continuarem suspensos e indigeridos, pairarão para sempre em todos os presentes havidos ou por acontecer...Nascem a cada instante no recanto mais diminuto,presentificando-se como sombra nunca extinta...Corro para o futuro na esperança de me desprender desse frio; retorno ao passado na esperança de descortinar os momentos deformados por um único
olhar.