Chegaram mesmo agora os dias sem poesia
Chegou a acidez do osso frágil
A vista enrugada, encovada, enevoada;
Mais a lentidão dos passos curtos
Em sapatos rasos.
Chegaram quilos a mais, agora mesmo
Chegou a letargia do desejo
As mãos atrapalhadas, presas, ressequidas;
Mais a lentidão das ideias quebradiças
E mal articuladas.
Devia ser possível recusar o invólucro enrugado
Ou recuar sobre as pernas definhadas.
25 comments:
E recusar esses dias sem memória, de olhos parados num tempo que perdeu o medo da morte.
Talvez o melhor seja aprender a viver com esse invólucro e preservar o que ele contém...
Não tenho palavras para dizer o que senti!
Beijos
Deixa-me tentar explicar, mesmo mal, a razão deste poema me ter tocado tanto.
É verdade que a velhice do corpo nunca, enfim...quase nunca é acompanhada pela idade mental, que fica jovem por muito mais anos, mas mesmo muito mais anos.
A letargia do desejo, para quem gosta (mais no feminino), quase nunca chega; chega a sublimação.
Sim, "devia se possível recusar o invólucro enrugado.."
olha ali uma personagem para ti, cns!
rb, não te esqueças que a poesia não é o que foi mas o que podia ter sido... (diziam os gregos)
fatyly, se sentiste é porque as palavras atingiram o seu fito :)
marta, acho que não se trata apenas da idade mental não acompanhar a outra; não creio que o tempo faça das pessoas outras. Isso que disseste do desejo é muito bonito, talvez me tenhas dado um mote...
Este poema toca por certo todos os que são "entas", concordo coma Marta eu também SEI, que a idade por dentro é não envelhece, chato é e já ter dificuldade em dançar o meu velho rock(palavra que ainda me apetece), ou jogar as modalidades todas que pratiquei quando jovem.(palavra que fui um excelente guarda-redes).
A contradição maior é eu acreditar que a minha alma tem séculos gravados na minha "caixa preta", mas ainda bem que só tenho acesso aos "anos próximos e jovens"
Confuso ? Quem leu Kardec sabe do que falo
Sempre sonhamos o que não fomos.... e se tivéssemos sido... sonharíamos uma outra coisa!
deforma-se o invólucro...mas embeleza-se a alma de sabedoria
passei, gostei.
1 beijo para ti
Devia ser possível recusar,combatendo, sobretudo, a letargia do desejo...Ela
é o motor do desse invólucro enrugado
da "alma"...
recusar...
talvez não, é um depositar de memorias e estorias, sapiencia
abrazo europeu :)
Devia ser possível, amiga, devia ser...
Abandonar o invólucro, tal como os animais que fazem mudas, mas manter o miolo, a memória, a sabedoria...
luis, tudo muito claro, para quem está nos "entas".
mfc, se não fosse assim seríamos uns conformados e isso seria a morte dos sonhos.
dair, às vezes ficamos a pensar (brevemente) que a sabedoria é pouco... mas só às vezes.
nenhum desejo morre addiragram.
mixtu, se fosse possível juntar a sapiencia à energia da juventude, seríamos outros, não sei se melhores se piores...
peciscas, essa solução era a ideal. nao sei como ficaria o mundo. se calhar está tudo bem como está, nós é que não podemos deixar de nos queixar...
Sem dúvida que é Elipse! Conheço vários casos em que o amor depois dos setenta, é um autêntico milagre de rejuvenescimento físico e mental!
Beijo grande!
CSD
..somos o que pensamos...ou pensamos o que somos?
Muito bom, mesmo!
Parabéns.
Não sendo (ainda) possivel recusar ou recuar, resta-nos desejar não lá chegar.
Beijo
Ler o teu poema fez-me pensar no meu avô (de quem gosto muito e de quem tenho muito orgulho). Apesar de a mente continuar lucida e forte como sempre (uma inspiração para mim) o invólucro insiste em ceder. E batalha após batalha, há sempre mais alguma coisa que surge... :(
e o primeiro sintoma é nos cabelos ;-)
... por enquanto, Saturno ainda é senhor do tempo e das coisas que podem tardar mas não falham...
bjicos
"recusar o invólucro enrugado" é o sonho daqueles que procuram a Fonte da Juventude...
Pois é, dois aninhos... esperamos um ano novo cheio de palavras... alinhadas ou não...
Sem saber e vindo nas asas de um sonho, aqui pousei… e gostei da beleza que encontrei.
Beijinho sonhador
Cláudia, amor é amor, seja em que idade for.
José Manuel Dias, somos sempre uma coisa e outra.
Dias, tudo o que não queremos, mesmo, é o sofrimento, não é verdade? :))
Rui, benvindo. Vamos lá agora à actualização das escritas. Um beijo.
Mo, efeitos do tempo que, como doz a Rosário, é uma realidade e pronto!
Fábula, não é uma questão de juventude, é mais "qualidade"...
Zumbido, está difícil arranjat tempo e inspiração para alinhar as palavras aqui. Paradoxo? Afinal é verão...
João Cordeiro, lindas asas as desse sonho. Irei lá com mais calma, daqui a dias.
Beijos a todos os que têm por aqui passado...
a única coisa que pode permanecer quase intocável é a nossa postura perante a vida, o nosso espírito, o nosso pensamento,...
texto fantástico!
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