... mas para isso fui buscar ao arquivo este texto antigo, que pode servir de começo de uma história.
Tudo isto para dar continuidade a uma criação - O Livro dos Bons Princípios.
Tamara de Lempicka
Do que ele tinha medo era do poço das palavras dela. Não queria escutá-la por muito tempo por isso replicava e contrapunha, percebendo que precisava do confronto para não lhe dar espaço. Sabia que ganhava nos argumentos, treinados desde o berço ou desde a definição dos genes. Habituou-se, pois, a ficar à tona, mas temia-lhe a dimensão do olhar mesmo em silêncio. Nunca se questionou se fugia, mas não devia ser de fuga o seu investimento pois sabia-se empreendedor e adaptável, obstinado nas metas.
Ela habituou-se a calar as respostas, fechada no desagrado até se diminuir no espaço. Enleava-se numa pequenez quase assumida, mas só por fora ou só para fora, segura que estava da sua solidez feita sobranceria. Mas disfarçada. Podia ser a sua forma de agressão, o seu ataque mudo. Ou a sua maneira de inventar o desafio do amor encaixando-o na figura ali presente. Ou uma forma de amor tornada posse, ou certeza de permanência na interacção da discórdia.Na cama fingia dormir, enquanto ele soprava o desespero. Dizia que o amava.
Atenta às variações confessadas do amor, tentei saber de que era feito esse sentimento que parecia um afecto envenenado. Percebi então que o medo é construtivo: temia o abandono e por isso abandonava, querendo possuir. Antes da ausência imposta já ela não estava lá, sendo a primeira a desobrigar-se. Construção estranha mas funcional, pelo menos enquanto o hábito não se tornou insuportável ao mecanismo do convívio diário. A verdade é que todos os hábitos enfermam desta mesma característica, mesmo quando as variações do amor são estáveis.
15 comments:
acho que nem é preciso escrever mais nada, este texto é PERFEITO!!!! Obrigada por teres participado, minha querida amiga, mais ainda, por te saber tão aporrinhada com as coisas da vida...
Linkei-te!
Deveria haver um DEPÓSITO de bons textos. Este iria para lá, já.
Ivamarle dixit. Disse da perfeição, o que desfaz eventuais subjectividades criticas.
Sem pontos nem virgulas:
venero o teu saber feito de saber sentido.
Deixar um beijinho é muito pouco
Os teus pés são navegantes na espuma, o teu cabelo dança em descuidada ironia, suave viagem de ondulante onda em tua boca, duas sílabas sopradas em mágica melodia…
Bom domingo
Doce beijo
Beijocas!
:)
...temia o abandono e por isso abandonava, querendo possuir.
Se possuimos sem amor, poderemos amar sem ambicionar a posse?
Essa é uma descrição perfeita de muitas vidas que andam por aí.
Parabéns:):)****
Um belo principio !
Beijo
A Iva marle tem razão : perfeito.
Elipse, tenho um prémio para ti. Penso que podes gostar.
Se não for o caso, borrifa.
Repara no blog que está a promover o prémio, quem já foi premiado.
oh querida marta... eu sou lá mulher de tomates!!!
ainda se fosse a minha prima, a Fausta Paixão...
mas obrigada pelo prémio!
Só que fartei-me de dar voltas e não consigo chegar à origem da tomatada... como ela diria...
Nem sequer percebi muito bem qual é o objectivo, tu sabes?
Elipse
"um Blog com Tomates, é aquele que luta pelos direitos fundamentais do ser humano"
No fim do post está a indicação para veres as regras e se te interessa.
Acho que este prémio é mais para ti do que para a Fausta. No entanto sei que a Fausta, também já foi nomeada.
beijinhos
Querida elipse: amei, sobretudo aqueles dois primeiros parágrafos. Uma flecha direitinha al mio cuore...!
Um beijo grande.
Dificilmente alguém te conseguirá ultrapassr em qualidade de escrita aqui na blogosfera. Apesar de haver uma mão cheia deles que te seguem de muito perto...~
Um beijo duplamente grande!
CSD
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