Monday, December 11, 2006

We must go away to find ourselves and then we must return home

Reikjavick

A Europa envelhecida, a que antes descobriu e dominou outros mundos, a contar histórias de Impérios.
Curiosa esta Europa que treme diante de um boião de creme na mala de uma cidadã que apenas quer manter a pele hidratada num país frio. Um creme hidratante poderia transformar-se em nitroglicerina e fazer explodir um avião. Ou… quem sabe, dentro do soutien podia estar escondida a pólvora!
Noutros tempos as bombardas disparadas das naus matavam infiéis e talvez não tenha tido importância nenhuma que milhões de africanos tenham sido levados para lá do Atlântico.
Hoje a Europa queixa-se de um défice populacional e sabe que precisa de abrir as fronteiras aos que nada têm para além da vontade de partir. Nada de novo, afinal nessa vontade: as migrações são tão antigas como a história dos homens. Porém rejeita-os depois, a pretexto de que o trabalho falta para os naturais. E preocupa-se em mantê-los nos seus lugares: integrados no mundo do trabalho; cidadãos contribuintes para manterem o visto no passaporte; porém, coesos nos seus hábitos porque a globalização da informação não os deixa perder o contacto com os lugares de origem. Nem sei se interessa a integração ou a assimilação - não sei bem que palavra usar. Às vezes, muitas vezes, veda-se-lhes a entrada. Chega de invasores, diz a Europa.

E aí temos a multiculturalidade apregoada há décadas. Ou aí a tememos?

No intervalo lembrei-me que estava noutro mundo. O lago estava gelado. O sol nasceu às 11 horas da manhã e às 4 da tarde era já noite. A luz era, aliás, sempre frouxa e as cores eram outras. A única coisa que sugeria claridade era o branco da montanha. E o frio. O frio também é branco.

Mas a Europa… o que é a Europa?
Tão diferente o gesticular da espanhola e a posição rígida do finlandês, sentados à mesma mesa!
Como acertar conceitos: integração, aculturação, assimilação… que significado têm as palavras para o italiano ou para a islandesa?
Metodologias comuns no trabalho documental com que fazemos a História? Difícil a questão.
Falta-me saber se a Europa é uma unidade ou uma diversidade para além de tantas outras coisas que me faltam ainda saber para poder saber alguma coisa.

16 comments:

mfc said...

... dentro do soutien está sempre escondida a pólvora!!

(Ó diabo... este comentário devia ser num outro blog!!!)

~pi said...

reikjavick é memória de postal de natal.
um dia, vês-te por dentro do postal, voltas, só o gelo nos pulmões diz que sim. e acrescentas eternamente essa memória a ti. pra sempre.

Anonymous said...

Também já vi uma mãe que não podia levar o biberon de leite para a sua filha no avião. Para o levar teve de tomar um bocado do leite e esperar 5 minutos a ver se não acontecia nada. Acreditas? Mas é verdade.

Quanto ao resto, não tenho o que é preciso para te poder responder a essas questões. Apenas sei que uma pessoa sai sempre mais rica desses encontros.

Elipse said...

manel, manel... a Fausta ainda não chegou. Deixei-a lá por mais uns dias para ver se arrefece um pouco.

Quando ela chegar eu pergunto-lhe se trouxe a pólvora ou se um dos apalpadores do aeroporto a descobriu... ou ela a ele!!!

Elipse said...

luci e rui... há dias em que desejava mesmo ter agora menos uns anos. É um desejo legítimo e universal, eu sei... ...

... said...

... palavras para quê?
... só para dizer que estou viciado... neste sítio!
... só para dizer que sou um dos (certamente) muitos assíduos da penumbra: chego pela calada, bebo, carrego as baterias, encho o alforge... e sigo, que nem almocreve, silencioso, para outros montes ... aculturados, de gelo, sem sol... nem integração!
... e fica melhor quando deixo o rasto da mui grata admiração!...

Claudia Sousa Dias said...

Acho que nenhum sociólogo consegue, por mais voltas que dê, responder a essa questão...

Ou melhor, descobrir a solução mágica para o problema. Porque soluções há-as mas podem não agradar aos extremistas ou donos de verdades absolutas...

bjo amigo

CSD

Elipse said...

gato... penso que deixaste o rabo de fora... mas é só um palpite!
vem ver-me quando quiseres. logo que tenha (mais) tempo darei notícias.Grata estou eu pelas palavras que deixaste.

é difícil Cláudia. é tarefa quase impossível porque estamos em retrocesso; e eu a ensinar aos meninos como nasceu a Europa e a lembrar-me das cruzadas e das inseguranças e das portagens e das peagens ...
parece que o ciclo se fecha de novo...

Fatyly said...

Sinceramente não sei a fórmula, não sei os caminhos, sei apenas que bem ou mal é em frente porque para trás ninguém volta. Quando se souber...já não farei parte dos vivos!

Se o meu pai fosse vivo diria é a quarta vaga, tinha a mania das "vagas" quando algo mudava drasticamente!

Havia um amigo meu dos tempos de escola que dizia (hoje vou vislumbrando essa realidade): um dia verás que a Europa ficará preta, África ficará branca e com os olhos em bico e que a Ásia, América e Oceania ficaria num batido de chocolate tal como o Brasil que começou cedo!!!!! e daí? perguntava eu...daí? ahhh pobres historiadores os manuais vão ser bem diferentes e ainda passam por aldrabões, mas já não estarei cá. Pois não, infelizmente já partiu há muito!

Julgo que se aprende sempre nessas reuniões ou colóquios.

Gostei das tuas palavras!

Ivar C said...

está velha, a Europa, mas quando sai de casa gosta de se maquilhar para parecer nova. Depois quando volta fica deprimida e zangada consigo mesma.
Parece-me. Não sei...

Anonymous said...

O pomar não está livre de assalto por muito tiro de sal que se arme.
O fruto apetecido, é comido à mão.
Beijinhos

Anonymous said...

A Europa sempre foi diversa, nunca foi una ou não teria havido tantas guerras. A UE é só agrária e financeira e pelos vistos nem se entendem quanto à Constituição.
Foi sempre multicultural e vai ter de continuar a ser.
Não se pode pedir tudo ao mesmo tempo.
Penso eu de que...

ivamarle said...

a mim falta-me saber TUDO. No entanto sei (ou melhor: acho que sei) que sou contra esse tipo de globalização de costumes. Seria imperdoável a perda da nossa genuinidade, da espanhola, italiana e por aí fora.Já tive a sorte de viver noutros países e o que mais me engrandeceu e enterneceu, foi precisamente constatar culturas e viveres diferentes daqueles a que me habituara...só queria ter a liberdade pessoal que tinha há 20 anos e partir...pouco importa para onde. Estou numa fase em que só me apetece partir.

Elipse said...

mas... e sobre a mistura? que me dizes da multiculturalidade?
É uma realidade ou uma ficção? É desejável ou podemos passar sem ela?

estou a lembrar todo o tipo de lutas que sempre ocorreram a esse propósito...

Elipse said...

:)
um beijinho, pirata-vermelho.

wind said...

Muito boa esta reflexão.
Para mim a Europa é cada um para seu lado!
beijos