Tuesday, November 21, 2006

Pôr fim à dor ou trazer mais dor? (eu não sei a resposta!)

Sim, podia até colaborar na morte como bênção, como finalização digna de uma vida vegetativa onde a qualidade, para além de não existir, nem pode ser avaliada pelo ser que está vivo porque de um vegetal se trata. Seria o desligar da máquina. Ponto final.

Sim, podia colaborar na morte como bênção, como finalização de uma vida sofrida, sem perspectivas como era a de Ramon Sampedro, vinte e cinco anos de um ponto final no mais leve movimento físico: “ un tetrapléjico es un muerto crónico que tiene su residencia en el infierno”, disse ele, ou deixou escrito, desesperado pelo reconhecimento de um suicídio assistido porque nem as mãos o socorriam para levar à boca o veneno mortal, à falta de pernas que o levassem a um lugar qualquer. Seria o satisfazer de uma vontade de pôr fim ao nada. Ponto quase final … ficando por saber da minha coragem para o acto “abençoado”.

Sim? Sobre uma criança? Uma criança com deficiência profunda, com os dias de vida contados, em fase terminal e sem esperança de retorno? O meu filho ou a minha filha?

Para mim que vivi o drama de uma deficiente próxima que quase me ficou em herança porque a longevidade instalou-se ali como que colada ao corpo deformado de um ser semi-gente… semi-nada…
Para mim… a questão é dura.
Teoricamente parece fácil, mas quando tem de ser a nossa mão a decidir…

Na Holanda (é sempre na Holanda) fala-se nisso. A polémica está instalada:

Reviveram os médicos alemães dos anos 30?
Mas…
Vale a pena ser privado de vida própria para toda a vida porque se teve um filho que não tem vida?

O que é que vale a pena nesta vida tão curta e tão pesada onde a matriz judaico-cristã nos deixou acreditar que o sofrimento liberta, ou é saudável, ou dignificante, ou encaminhador da vida eterna…

10 comments:

Fatyly said...

Já me pronunciei que sou a favor da legalização. Vivenciei de perto casos horríveis.Que é que eu faria numa situação dessas? não sei porque nessas horas as lágrimas secam como secaram perante a impotência de...em que nem a morfina ajudava e o apelo era constante. Mais se num hospital a agonia é terrível, em casa é muito pior julgo eu de que....
Tal como tu, penso que ninguém sabe a resposta porque só na hora e perante o facto é que sabemos.
Que dizer a uma mãe e a um pai, cujo filho após um acidente grave de moto e desligado das máquinas, continua vivo versus a vegetar! Em muitas conversas anteriores ele próprio (hoje com 30 anos) dizia se... quero a eutanásia. Não se pratica, não é legal mas oiço e vejo o sofrimento dantesco de uns pais impotentes sem sequer saber perante estimulos até que ponto o cérebro funciona. Dói muito e dá que pensar, porque pode morrer a qualquer instante, como pode continuar assim! e andam nisto há três anos e num baloiço constante...SIM OU NÂO????E se nós morrermos primeiro que vai ser dele? e o meu silêncio é apenas ouvir, ouvir e afagar-lhes num abraço!
Muito complicado!

Toze said...

É muito fácil dizer SIM ou Não, não estando o destino de alguém nas nossas mãos !

Por isso não consigo ter uma opinião formada!

Anonymous said...

Também sou a favoe da legalização.
Sou sempre a favor da opção e não da proíbição.
Desligar a máquina é o mais fácil, ou o vegetar, mesmo em relação a um filho.
O difícil, suponham, é ter um cancro e ser doente terminal, é aceitar que a vida acabe já.
Sim é difícil e fico dividida.

Ivar C said...

também não sei, mas por princípio acho que cada um é dono do seu corpo e da sua vida também... pode fazer o que quiser com ela.
claro que isto não chega para discutir o assunto, mas eu não sou capaz de ir objectivamente mais longe. :)

Anonymous said...

Há muito que se lhe diga.
Matar pode ser um acto de amor, por muito que doa a quem o destino o pedir. Não o fazer, pode ser egoísmo na moral ou ética ancorado.
Não julguemos consciências que pela nossa poderemos ser julgados.

mfc said...

Não podia deixar de ser mais favorável...no plano teórico.
Na prática, não posso afirmar categoricamente como reagiria!

peciscas said...

Também já escrevi sobre isso, dizendo, em suma, que não é assunto fácil.
Teoricamente sou a favor da eutanásia.
Mas, quando as coisas, como dizes, nos tocam de perto, a gente fica algo desarmado.
Há mais de vinte anos, vi o meu pai a definhar,e a agonizar lentamente, durante longos nove meses.
Tratámos dele até ao último suspiro.
Mais recentemente, a a minha mãe, foi um "cadáver adiado" durante cerca de quatro meses.
No entanto, mesmo sabendo que a situação não tinha retorno, se tivesse de tomar uma decisão definitiva sobre a suspensão dos tratamentos que lhe adiavam o fim, não sei se teria coragem. Ou, se a tivesse, não sei se ficaria com remorsos permanentes.
Porra, não é fácil!

addiragram said...

O coração traça caminhos que não sabemos antecipar...Tudo é fácil em teoria, tudo é tão difícil quando nos bate à porta. Acredito que a capacidade para aceitarmos a "partida" dos que nos são queridos depende, em grande parte, da qualidade da relação que com eles tivémos...mas, nunca se sabe.

SoNosCredita said...

percebo quem a pede...

seria o meu pedido, caso estivesse numa situação limite...

mas também percebo quando dizes "Teoricamente parece fácil, mas quando tem de ser a nossa mão a decidir…"

e tento imaginar!

Anonymous said...

não concordo com a perspectiva judaico-cristã, de todo. Mas como dizes, falar quando se está de fora é sempre muito mais fácil do que ter a decisão nas mãos.Com as devidas diferenças, dir-te-ei que foi a decisão mais ingrata que se me deparou na vida, a de abater a minha cadela ao fim de 13 anos, para a poupar a uns meros meses sem qualquer qualidade de vida e sofrimento constante...