Wednesday, May 24, 2006

Sobe que sobe, sobe a calçada…

Depois fui trabalhar, mas já tinha ido às compras e deixado o almoço feito. Antes tinha estado a ajudar um dos filhos a rever um trabalho mais exigente cuja apresentação era hoje, no IST. (correu bem, já sei). Tinha estado também a ler até tarde, coisas de trabalho, também, mas outro, um que faço por conta própria e sem remuneração. E não é só por prazer, porque isso seria ter um livro para ler e não o fazer. É que não me apetece estar no mundo por ver os outros, e a preparação das aulas mais a correcção dos trabalhos e a organização de materiais é coisa de pouco desafio, ao fim de uns anos. Absorve tempo, sim, mas não satisfaz. Podia dizer que é para estar melhor preparada, que é pela exigência do meu público, pela boa preparação que lhes quero dar. E quero. Só que não tenho resposta. Mas, ainda assim, não se pode entrar numa aula de 90 minutos e esperar que 20 e tal adolescentes nos oiçam. Teoria? Nada disso. Levava, pois, a mala cheia de papelada, textos, cartolinas com imagens, bostik para as colar no quadro, fichas de trabalho…
Dormi pouco, portanto. E a escola já não é o lugar para onde costumava ir com gosto e vontade de novidade. Apetecia-me tudo menos confusão.
À chegada, ainda antes de entrar ao portão, dei de caras com muitos e muitas, todos ao monte junto aos carros estacionados. A maior parte dos carros são deles e é vê-los à saída todos inchados porque vão pegar no popó e fazer figura. Os professores (os que têm carro) têm de estacionar onde calha…
Estou a falar de uma escola secundária, onde agora também se misturam meninos do ensino básico, tudo junto e em guerra.
Ali estavam umas dezenas de cabeças com bonés, reparei nisso, pareciam equipas diferenciadas, uns de lá e outros de cá, assistidos por terceiros que esfregavam as mãos porque ia haver porrada…
Vi-me metida no meio, jé eles se empurravam. Fiquei com os ouvidos cheios das palavras que eles mais sabem dizer. Não me atrevo a repreender ninguém, não resulta, já fui insultada quando o fiz. Eles não chegam a perceber porque é que é incorrecto dizerem “foda-se” e “caralho” 799 vezes por dia, em todos os lugares públicos e privados; e não acredito que todos os progenitores sejam trabalhadores da construção civil.
Chamou-se a polícia. Não vieram.
Depois passei a tarde a fazer telefonemas porque os que eram meus alunos podiam ser meus filhos e se fosse eu a mãe ficaria grata a quem me dissesse que à porta da escola se fazem esperas, um gang de cada lado e os carros cheios de paus e ferros.
Só me faltava dar uma aula para acabar a tortura. Revolução Francesa, liberdade, igualdade e fraternidade. Direitos do Homem e do Cidadão… e eu entusiasmada com as analogias que ia trazendo à conversa. Meia dúzia a ouvir e os outros em pleno galinheiro. Um canta baixinho. Quando me calo, cala-se; quando recomeço, recomeça. Uma derrama o tubo de cola sobre a mesa e põe-se a guinchar. Separo dois. Amuam e dizem que já não trabalham mais. Um deles ainda diz “Pois agora é que vou mesmo portar-me mal”. Ponho alguém fora da sala? Quem???
Quero continuar a esquematizar, no quadro, aquilo que muda num país com uma revolução. Gostava de lhes explicar o que é uma constituição e o que é o poder legislativo e quem o desempenha nos países democráticos…
Uma voz diz “Nós também somos povo e devíamos era fechar na sala de professores os cotas todos que nos atrofiam com estas tretas”.
Cansei-me. Parei. Tentei brincar… às vezes resulta.
Saí.
Amanhã volto para o mesmo lugar.

20 comments:

mfc said...

É a sina de todas as Luísas! Oh como aprecio as Luísas deste país...
Mas sabes porque é que tudo isto acontece? É o recverso da massificação do ensino... mas é um custo necessário.

addiragram said...

Estamos na confusão de línguas.Inpossível e inviável qualquer comunicação enqunto se não criarem formas,outras, de transmitir que contemplem as realidades a quem se dirigem.A massificação do ensino não poderá falar uma única língua,mas várias.. Beijinhos de coragem para ti

Anonymous said...

Conheço professores que conseguem, desconheço as formulas usadas, mas a ligação deles com os alunos é muito além da "massificação do ensino" e mesmo assim por vezes vejo-os bem desanimados, sobretudo com os gangs! Subscrevo as palavras de addiragram. Amanhã será um novo dia e quem sabe se um dia destes não acordamos espanhóis ou franceses ou o raio que me parta!
Não percas, percam a coragem para eu não desanimar!

Elipse said...

estás a ceder, manel!

estou cansada de pedagogias diferenciadas, addiragram, já não acredito noutra coisa que não seja a ordem e a disciplina, valha-me deus!

e tu, pirata, ainda levas uma falta por mau comportamento.

Anonymous said...

olha o pirata-vermelho, disse o que me apetecia dizer a tudo que se passa e que ainda gritam viva a selecção!
FODA-SE MESMO!

Desculpa pirata e elipse aquele abraço.

Elipse said...

fatyly, não me importaria de ser espanhola. Se o tempo voltasse atrás pedia à minha mãe para se mudar para Beja e iria nascer do outro lado.

Anonymous said...

Eu vou-me encontrar com o António Costa e depois digo-vos! Isto só vai à estalada e passar por cima dos advogados de defesa de meninos que se julgam os donos do mundo...ah se vai!
Agora vou ser expulsa e vou dormir!

Anonymous said...

Olha elipse era p'ra já, porque sendo eu uma "sem terra" se morasse perto de Espanha, Portugal não veria mais um tostão meu, porque aturar o que aturam diariamente do dito "futuro de Prtugal" tipo morangos com açucar...jasus comigo não dava.

Inté

wind said...

Sei perfeitamente o que descreves.
Foi isso que me levou a deixar de dar aulas. Os constantes desafios, comportamentos agressivos, insolentes por parte de alguns alunos, a falta de interesse pela matéria, o comportamento de certos pais, desmotivaram-me completamente.
Já não falando das sucessivas mudanças de leis, programas, ministros...
beijos

Leo said...

Por vezes dá vontade de dizer que no tempo do Salazar não era nada disto. Só é pena não conseguirmos reunir as coisas boas daquele tempo com as deste. Até parece, e dos outros comentários parece notar-se também, que hoje há benefícios e facilidades a mais. Mas não para os professores, claro.
O sentimento de pertença a um grupo é sempre um factor muto importante e hoje em dia tratar mal o "prof" é in. Os "atinadinhos" não têm lugar nos grupos, só quando alguém precisa dos apontamentos. Pois é, o presente já não é bom, mas o Futuro não parece melhor. E como diz a minha sogra "filho de burro não pode ser cavalo".

Beijinhos

Anonymous said...

Elipse desejo-te um bom fim de semana em Aveiro, repousa um pouco desse trabalho árduo, leva o fato da estilista ivamarle e recebe o prémio em glória. Beijos para ti e para todos e dá os meus parabéns aos organizadores.
Divirtam-se por mim:))

Rosario Andrade said...

Bom dia Elipse!
Mas que raio de sorte! Aturar os filhos "deseducados" dos outros... ser professor deve ser das profissoes mais enervanntes que existem. Nem imagino os niveis de stress!
Essa tralha toda de pedagogias e blablabla é o retrato do pais: teorias, teorias e mais teorias desajustadas da realidade. Coitadinhas das criancinhas, tem de se fazer isto e mais aquilo e puta que as pariu!
E nao podem aprender mais do que graozinhos de arroz diariamente senao o cerebro nao aguenta, é uma violencia, cruzes credo! E tem de passar de ano mesmo que nao saibam o minimo senao tem problemas psicologicos. Bastardos! Era terem de trabalhar para os vicioos em vez de os paizinhos lhos alimentarem (para que nao chateiem)a ver se levantavam a crista!...
Bjico

ivamarle said...

ufffaaa! aqui está uma boa ilustração da minha vontade de nunca vir a ser professora (nem ter filhos, mas isso é outro assunto...)
Não há pernas que aguentem, em determinadas alturas, com a mesma calçada que parece ser cada dia mais íngreme.

António Gomes said...

Que selvajaria.
Qualquer dia a educação terá mesmo que ser dada na escola, digo educação daquela que supostamente deveria vir de casa, mas infelizmente não vem...

mixtu said...

Vida de professora não é fácil...yayaya
uma pergunta... pode-se bater nos gajos (alunos) ?
besitos

antónio paiva said...

.....mesmo assim ainda não é Iraque ou Palestina, mas quem sabe talvez.....boa sorte.....

Até à volta

Anonymous said...

Não era preciso ser tão objectivo,pirata-vermelho?!!!

Anonymous said...

Subescrevo as palavras da Rosario.

Eu nunca fiz (nem faço) parte de nenhuma turma, ou escola mesmo, em que houvesse problemas dessa gravidade. Mas admiro e sempre admirei os meus professores.

Claro que há professores e "professores", tal como há alunos e "alunos". E com muitos alunos, não é uma questão de qual forma se usa para lhes cativar o intresse ou para os ensinar, alguns simplesmente não há como como os cativar. Não é culpa dos professores, nem vale a pena eles martirizarem-se por não o conseguirem.

Anonymous said...

rui-son claro que é isso, há professores e professores e há alunos e alunos e como diz Rosário tudo vai do que levam de casa.
Deve ser desgante e agora questiono-me, se os meninos que se aproveitam de tudo para destabilizarem e andarem sempre no "bem-bom-da-ordinarice" e cujos pais alimentam bem o seu "absurdo" que avaliação irão fazer ses pais aos professores? (nova lei). Enfim...uma profissão que nunca quiz ter, primeiro pelas reguadas e castigos que levavamos e agora pela ausência de tudo. Porra!
Já agora rui-son...no teu blog não sei comentar porque é diferente deste daqui. Desculpa elipse este recadinho mas sou péssima aluna:):)
Beijos

Anonymous said...

Excellent, love it!
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