Dali
E eu percorrendo os areais ou sentada na rugosidade da rocha, mas sempre sob a ameaça da queda lenta e eterna.
Também podem ser escadas que me transportam para os lugares cimeiros donde caio invariavelmente como se o filme passasse devagar e nunca acabasse; ou caio para um lugar vertical muito elevado que dificilmente me acolhe, tal é a estreiteza, estando de novo a queda à vista. Devagar.
Outras vezes são passagens apertadas onde poderia caber o corpo de uma ave, nunca o meu; contudo eu teimo e fico aprisionada em sufoco porque algum perigo me apressa na passagem e eu tropeço na roupa ou corro de joelhos e nunca chego ao meu destino.
Ou barcas perto das margens mas sem leme. Ou gritos abafados numa voz que não existe. Mas sempre com perseguição ou outro perigo que não identifico por falta de tempo.
Aflijo-me também perante folhas e folhas de palavras que não decifro. Mas estão lá à minha espera.
Convoco pois os relógios deformados e os violinos dobrados sobre as areias dos desertos, os cavalos de dorso suspenso ou as gavetas dos corpos putrefactos, a beleza comestível e as ruínas dos poços iniciáticos. Eterno retorno este, que os mecanismos do invisível operam no teatro da memória.
Ah, mas recuso os deuses pregados nas paredes em crucifixos dourados. Não me sujeito aos modelos, embora finja.
E eu percorrendo os areais ou sentada na rugosidade da rocha, mas sempre sob a ameaça da queda lenta e eterna.
Também podem ser escadas que me transportam para os lugares cimeiros donde caio invariavelmente como se o filme passasse devagar e nunca acabasse; ou caio para um lugar vertical muito elevado que dificilmente me acolhe, tal é a estreiteza, estando de novo a queda à vista. Devagar.
Outras vezes são passagens apertadas onde poderia caber o corpo de uma ave, nunca o meu; contudo eu teimo e fico aprisionada em sufoco porque algum perigo me apressa na passagem e eu tropeço na roupa ou corro de joelhos e nunca chego ao meu destino.
Ou barcas perto das margens mas sem leme. Ou gritos abafados numa voz que não existe. Mas sempre com perseguição ou outro perigo que não identifico por falta de tempo.
Aflijo-me também perante folhas e folhas de palavras que não decifro. Mas estão lá à minha espera.
Convoco pois os relógios deformados e os violinos dobrados sobre as areias dos desertos, os cavalos de dorso suspenso ou as gavetas dos corpos putrefactos, a beleza comestível e as ruínas dos poços iniciáticos. Eterno retorno este, que os mecanismos do invisível operam no teatro da memória.
Ah, mas recuso os deuses pregados nas paredes em crucifixos dourados. Não me sujeito aos modelos, embora finja.
6 comments:
Espectacular texto! beijos
há memórias e memórias. Gostei muito e parabéns escritora!****
....não adianta fingir, podes percorrer todos os areiais, o fundamental é esvaziar de todo as gavetas, voltando arrumar tudo devidamente mas com tempo.....
Beijinho e noite serena
:-)eu não me sujeito,nem finjo. são opções.
Mas ainda doi um bocadinho as pazadas nas costas...
Todos fingimos sempre um pouco.
tu e o Dali deveriam ter nascido na mesma Era, os teus textos seriam um belíssimo complemento para os seus quadros magistrais...
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