Wednesday, March 15, 2006

Peso a mais ou balanças mal aferidas

Não me venhas falar de estruturação, que a vida é muito mais do que um esquema, muito mais do que as linhas de um gráfico, ainda que flutuante.
Não me venhas dizer que a harmonia passa pelos modelos explicativos, que eu já confrontei os anos que passaram com os anos que ainda faltam e não vejo registo de balanços, embora possa dizer-te que houve ganhos e houve perdas.
Não me venhas sugerir o cheiro do mar em dia de ondas batidas, ou a respeitabilidade do universo, que já relativizei a minha permanência até ao infinito e não sei de outra pequenez mais naufragada.
Não me venhas mostrar as palavras editadas, que a minha ambição reside no conteúdo de mim mesma e a balança não tem fidelidade que me satisfaça.
Não me venhas afirmar possibilidades, que as alvoradas são ainda fáceis antes da dificuldade de sucumbir ao não querer mais do que o desejo feito fragilidade.
Não me venhas escutar ao fim do dia, que esse é o momento em que não sei dizer de mim mais do que a gradação do silêncio dentro de uma catedral sem sinos.

12 comments:

Zumbido said...

Balanças propõem equilíbrios e o equilíbrio é imóvel. A vida é consequência do tempo e o tempo não tem ponto de apoio. O movimento procura um equilíbrio que se escapa e nunca atinge o fulcro. Depois da impaciência acumulada vem a revolta. Celebremos.

antónio paiva said...

.....está bem, ao menos deixa-me dizer-te.....

Beijinho e noite serena

mfc said...

Mas há uma coisa que é imutável e é linda... É aquela criança que continua a existir dentro de nós e que precisa desesperadamente de uma oportunidade para ressurgir.
Dá-lha hoje. Custa tão pouco!

Rosalina Simão Nunes said...

"Não me venhas escutar ao fim do dia, que esse é o momento em que não sei dizer de mim mais do que a gradação do silêncio dentro de uma catedral sem sinos. "

os crepúsculos dos dias deviam ser sempre, assim, em silêncio para apaziguar as almas.

Carlos Estroia said...

Balanças imprecisas..com não poderia deixar de ser na Teoria do Caos... em que mergulha o Universo... e contudo tod feito da mesma matéria..."nada se perde tudo se transforma" que harmonia de pensamento no Caos que é a mente...

Abraços

Anonymous said...

Há dias, oh se há...em que o "não" é mesmo "não" e descrevestes super bem! 5 estrelas!
Uma boa noite para esse "não"!
Beijos

Maria Manuel said...

... não venho!
Apenas dizer-te que, desta forma, a negativa a negativa é menos sombria...

K. said...

A última frase que escreveste é assombrosa.

antónio paiva said...

.....[*].....

Lúcia said...

vir aqui é uma angústia. escreves de uma maneira comovente e os comentadores também não ajudam. falo assim, apenas porque não tenho o dom da palavra e gostava de o ter. mas cada um é como é.
é sempre um prazer a visita
beijos e bom fim de semana :))))

inda bem que esta coisa voltou ao sítio.

Lúcia said...

ahhh, mais uma coisa: não sou invejosa ;)

ivamarle said...

Adoro as tuas palavras, tanto como as deste Senhor:

Quando quiseres saber da minha saudade
Vai ao fim da tarde aonde
As estradas saem das aldeias...
De noite e de dia a toda a hora escuta
A passagem dos carros dos combóios
Por onde não parti

Ou toca apenas qualquer coisa
Uma jarra um livro uma janela
Qualquer coisa perto em que eu pudesse
Transformar-me para estar
Ainda mais junto
Ainda mais certa
De ti...

Vitor Matos e Sá