Tuesday, October 18, 2005

Pedras desfeitas


Então dizias-me que havia uma pedra pousada no rio, uma pedra-ponte que se podia pisar para alcançar a outra margem. E que eras a pedra, pé firme sobre a solidez emprestada à partilha. Pé frágil o meu, pedindo apoio. Mãos postas sob os céus polidos de tantas preces.
Disseste que era para sempre. Podia ter sido para sempre essa ponte pousada no rio para chegar à placidez das águas. E o sempre fez-se tempo escrito no encanto das primeiras páginas de uma história de princesas. E depois passou sem se tornar eterno.
Para sempre ficaram as memórias num lugar de permanência que pintámos a duas mãos, sobrando agora apenas o olhar sobre o passado, pouco mais do que um passo em falso sobre uma pedra que as águas tornaram pó.

6 comments:

Maria Heli said...

Tão mas tão bonito. Disse-me muito.
obrigada.

Zumbido said...

Eco que sabe de signos e de história e de muitas outras coisas, terá dito ou escrito, dele ou de outro, inventado ou roubado, mas sempre descoberto, que o amor é eterno enquanto dura. E nós, querendo ser sofisticados, dizemos o mesmo... excepto quando amamos.

Anonymous said...

Se todas as dores fossem tão belamente descritas ficaríamos convencidos que todos eram felizes (excepto nós próprios!).

Lindíssimo!

Rosario Andrade said...

Adorei!
"maos postas sob os ceus polidos de tantas preces". Genial!

Abracicos!

Tino said...

Vim aqui parar através da minha amiga Maria que vejo que aqui também veio beber um copo,e...não há muito a dizer...é uma arte colocar alegria na descrição de um momento triste...é admirável que ainda existam pessoas que em vez de se fazerem de coitadinhas,guardam tudo o que há de bom de um percurso que acaba.
Um beijinho :)

mfc said...

Um poema em prosa que tanto me disse... como se fica mais tocado quando o que é dito o é de uma forma tão perfeita?!