Saturday, August 27, 2005

Tinha um texto para escrever



Tinha um texto para escrever. Ou um poema.
Ou apenas umas palavras em linha que o vento desta manhã desalinhou.

Ou foi a noite inquieta que lhes alterou o sentido. Ou a inquietação que vem amiúde e danifica os pensamentos na sua origem e os desliga de todas as coisas. Dias seguidos de palavras alteradas depois do estrago. Declínio do sol sob a ocultação da luz. Braseiro aceso.
Tinha um texto para escrever. Ou um poema.
Ou apenas a tinta nas mãos aguardando uma tela.
Ou a pintura da noite inquieta na impossibilidade da representação. Ou as palavras representadas em linha sem vento que lhes capte o sentido.
Ou eu própria desalinhada no espelho. Imagem detestável na manhã inquieta.
Que fazer com as palavras que não se fixam às coisas?

5 comments:

Maria do Rosário Sousa Fardilha said...

Muito bonito e cheio daquela inquietude de quem escreve um texto ou poemas ;)

bj

Elipse said...

Às vezes escrever é um exercício doloroso. Sendo sempre um prazer.

CapoCosmico said...

Hermoso!!!... espero poder entendernos.. no?

Elipse said...

Obrigada pela tua visita.

CapoCosmico said...

si!...nos vamos a entender! No hay codigo indispenable en el arte!
Besos!