Monday, August 08, 2005

Falo de mim mesma


Falo de mim mesma:
Desconhecida, incógnita, evasiva,
Aquela que traz palavras
Dentro das mãos fechadas
E as pousa devagar
Revelando o segredo da crisálida
E o fascínio
Pelas margens da fantasia:


Falo de mim mesma
Na margem dos meus olhos
Abertos por dentro das madrugadas
De insónias finalmente resolvidas;
Transformo as palavras
Em convicções que não dizia
E sento-me no lugar onde as ondas se desfazem
À espera que o mar me conte segredos;


Falo de mim mesma
Depois de sufocar todas as iras;
Agora sim, de olhos abertos à vida
Embalada em todos os sentidos
Asas abertas, longas, leves, limpas
Em direcção aos pontos de fuga (e de retorno)
Evoco o Tempo
À espera das horas que hão-de vir;


Falo de mim mesma
Como se da terra outrora seca
Tivessem despertado as seivas
E o orvalho adormecido no silêncio
Tivesse também acordado
Sob o rumor da metamorfose.
Incógnita, ainda, sim,
Mas já voando sobre as cinzas
Crisálida desperta, com as mãos cheias de palavras
.

No comments: