Wednesday, May 13, 2009

Vestidos de pedra

foto de Elipse

Demoro-me nas linhas das palavras, secas as letras, lento o rastejo.
Demoram-se-me os gestos, mais do que seria de esperar, na dimensão dos verdes e nos espectros que os enleiam. Ignoro os nomes das coisas e o texto enrola-se. Presença inútil a da música.
Petrificam-se as emoções; e a espuma dos sonhos, macilenta, térrea, despida de substância, é pedra igual.
Os ângulos dos dedos ferem a coragem; não há paz nem na sombra, nem nos claustros.
Roça a dor na demora dos gestos; fio de meada enleada, larva em casulo seco, veludo desbotado. Pedra.
Inquieta-se a lucidez, fermenta o rasgão no espelho, perde-se a semântica dos sentidos.








Tuesday, May 12, 2009

À espera...



Sentados em cadeiras de fundos gastos, em salas pouco arejadas onde os encostam às paredes para que aguardem, calados, a chegada do fim, os velhos fecham os olhos e viajam no tempo. É um movimento ao contrário; em meninos projectavam-se nos dias que estavam para vir, agora não há dias para além do dia; já não lhes importa que alguém venha, depois de terem lutado em vão para que alguém os levasse. Agora ouvem, em registo longínquo, as músicas encantadas dos dias antigos ou sentem discretamente os beijos, de tão distantes. Agora recuam à infância e esquecem o que se passou ontem. Agora, destapam apenas as extremidades de uma pele que se gastou no fazer das coisas e que se amaciou nos afagos. E a mão forte, longa de agarrar, não é mais do que a mão velha que aguarda, de olhos fechados, o passar do tempo.


Friday, May 01, 2009

espaços vazios

foto de Elipse

Há muito que os poemas deixaram as coreografias velhas
e as novas não se colam às palavras
ou as letras são poucas
ou o espaço cada vez mais amplo...