Saturday, March 21, 2009

Venerando a divindade


Espero-te, ainda e sempre, no lugar dos mitos.


Para mim és água fresca em fim de tarde,

folha de hortelã, barro molhado;



Vejo-te por dentro das pálpebras

Coluna grega a dobrar-se em vénia graciosa.


Quando te penso invento a perfeição.



Sunday, March 15, 2009

Dias com luz

foto de Elipse
Pendem dos ramos cachos de folhas novas; chilreiam pássaros, despontam ervas, florescem trevos; os miúdos deslizam nas rodas dos patins em algazarra; um par de jovens alheia-se do mundo à sombra de uma árvore e os beijos crescem; e o céu é todo azul e cheira a verde.

Monday, March 09, 2009

A construção


Volto sempre à ideia das construções narrativas para tentar clarificar.
Dizia que vou buscar aos bolsos as histórias planas que aí colocara pela insignificância do dia, ou pela sua dimensão de esboços mal começados e que as vou enchendo de palavras como se enchesse de sentidos uma coisa sem forma, assim criando fingimentos sérios.
Digo ainda que podem ser histórias de partidas, histórias de alcançar rumos ou de feridas causadas pelo romper dos sonhos colados à pele. Histórias de desejo. Histórias com vento, escritas à vista do veleiro de que os olhos se apropriam num dia de verão à beira-mar. Histórias de projecção do ser no ser ou noutros seres cujas vidas se decalcaram no plano da minha rua ou noutros ainda que entram na janela do meu recordar sendo que tudo o que se recorda está em confusa arrumação numa arca de criações múltiplas. Por isso são sempre histórias.
Dizia que toda a ficção é a invenção da possibilidade de ser, o cruzamento de mundos alternativos com personagens a dobrar falas. E que assim se desenham nos relatos os gestos, as vozes, as intrigas e as soluções, mas sempre em histórias.
Digo ainda que recordar é sempre uma narrativa. E que para narrar se parte da selecção dos factos; e que a selecção muda todos os dias, a partir do que nos aconteceu ontem ou já hoje.
Que pode sobrar nesta construção narrativa que aqui exponho aos olhos dos outros?
A ficção. Para ser lida.
Nesse momento começa a outra construção porque só os outros olhos dão sentido às palavras quando delas se apropriam.

Friday, March 06, 2009

O reencontro


Depois o abraço, mas antes os dias empolgados da espera, após a coincidência.
E antes, muito antes, um tempo perdido na infância, há muitos, muitos anos.
No intervalo decorreu a vida.
As meninas encontraram-se e olharam-se nas rugas. Viram através delas o passar dos anos e contaram como foi. Ou antes, contaram pedacinhos de dias bons e dias maus que a memória não alberga mais do que uma parte do todo. Às vezes nem um traço. E, à distância, havia coisas difíceis de confirmar, talvez apenas construções ou desejos. Nunca se saberia. As fotos não comprovam mais do que aquele preciso momento e não se consegue ver nelas o sentir daqueles dias. Isso disseram-no elas, as meninas, à distância de muitos, muitos anos.
Sabes, amiga, o passado não vale mais do que o necessário para se perceber de onde viemos. E mesmo isso nem sempre é a verdade!

Para mim, a verdade foi o encanto de te ter de novo.