Tuesday, May 27, 2008

Horizonte

- E nos teus sonhos, como está o mar?
- Agora está sereno. Vejo-lhe, na transparência, os novelos das águas; e soltam-se as bolhas de ar à superfície. Apetece-me explorá-lo até perder o pé.
- E não tens medo?
- Claro que tenho. Mas ficar em terra é mau. Ali naquele lugar onde rebentam as ondas até a espuma se desfaz na areia.

Sunday, May 04, 2008

Fios de seda colorida para bordar em linhos novos



Declinou o dia e com ele os retalhos emendados na neblina destes pensamentos velhos; não gosto do anoitecer precoce quando a hora se faz tardia nem deste gosto embaciado do serão inútil. O gato roça-se e aninha; e eu sem serenar remexo nas palavras e vou organizando os papéis eternamente dobrados sob a tentativa da harmonia.

Podia começar assim o romance se me atraísse a prateleira visível do nome exposto. Mas o que me atrai é a vida.
Foi excessivo o tempo de repouso nas sombras; descubro-me agora na azáfama de outro querer e movo-me, activa, preparando o espaço.

Uma frase forçou a tarde; ou era a imagem de um limoeiro velho, drama de querer um começo e não dar com o caminho. Não me agradam as trivialidades mas também não me apetecem palavras semeadas sem métrica ou melodia.
Terei de as bordar em linhos novos com fio de seda colorido.