Thursday, June 28, 2007

Suspirando...


Raramente usei este espaço como lugar de contestação social ou de qualquer outra natureza. Talvez o tenha feito uma ou outra vez, desabafando queixumes relativos à minha actividade de professora e ao desagrado que em certos dias isso me causou (não, não é verdade que tenha deixado de gostar do que faço, mas há uns dias piores que outros, como na vida de todos os profissionais).
A personagem que criei para escrever aqui é demasiado virada para dentro para se interessar pelas coisas que movem o jornalismo, que se vai fazendo ao sabor daquilo que é mais mediático e, como tal, que pode render mais às empresas de comunicação e difusão.
Porém, eu interesso-me. Mas não preciso de criar nenhum outro espaço para o efeito. Estou a usar este, exactamente hoje, depois de ter estado sentada diante da televisão a ver as notícias do país e do mundo.
E o que vi e ouvi assustou-me:
As leis do trabalho estão a mudar de uma maneira estranha. Para quem o tem, claro!
O Ensino Superior tem, a partir de hoje, novas regras (bastou a aprovação da maioria, claro). Teremos empresas de ensino a formar os futuros alunos.
Uma directora de serviço foi hoje demitida do seu cargo por não ter retirado um cartaz jocoso a propósito de declarações do ministro da saúde. Antes, como se lembram, tinha sido um professor, destacado numa Direcção Regional.
Depois há ainda o caso Portugal Profundo - take 2 - tendo António Balbino Caldeira sido ouvido hoje em tribunal a propósito de umas coisas que escreveu. Mas já tinha havido o take 1 - há uns tempos, por causa de outras coisas escritas, nessa altura a propósito do (quase) esquecido caso Casa Pia. Segundo o próprio, quatro anos de blog deram origem a quatro processos.

Então, quando me preparava para dar voz à Elipse, à espera que saísse um dos seus textos poéticos, fiquei assim...

Wednesday, June 20, 2007

A não perder...

Músicas sobre Água - Vitor A. Ribeiro
em exposição aqui

Há uma melodia paralela aos teus pés descalços, uma música sobre as águas da maré baixa que te faz voar à minha volta e me encanta os dedos nas cordas …

Há uma melodia paralela ao teu recorte, uma música que me faz encantar-te os dedos e os olhos que prendes ao voo dos meus pés descalços sobre as águas da maré baixa…

Há harmonia nesta cumplicidade paralela à música; e há a tua figura esguia sobre as águas da maré baixa enquanto vibram as cordas e eu acompanho o teu voo com os meus olhos rendidos…

Há cumplicidade no render dos teus olhos; e há o desenho harmonioso das tuas mãos na música do meu vestido que ondula ao som do teu voo enquanto os meus pés dançam...



O que me inspirou?

Esta pintura - óleo sobre tela - exposta no Reservatório da Patriarcal, à Praça do Príncipe Real.
O autor é Vitor A. Ribeiro e vale a pena visitar a mostra, que estará lá até 31 de Julho.

Tuesday, June 12, 2007

Retrospectivamente



Antecipei sempre os poentes nas colunas do horizonte
Quebrei todas as sílabas silenciando as agonias
E deixei arrastar as águas dos Invernos
Sobre mortalhas de vida presa ao compromisso.

Aliviei com silêncios o rancor dos elementos
Cortei com a navalha a ponta incendiada das asas
E escrevi textos e textos no lavrar do medo
Sobre jardins plantados em marés futuras.

Aceitei o gelo dos areais por temer a oscilação das dunas
Enquanto me deitava hirta dentro da escuridão
E plantei musgo anunciando a Primavera
Sobre as farpas agudas de todos os argumentos.

Recolho agora da neblina o cheiro a véus translúcidos
Feitos espelhos de memórias e gestos por dizer
E deixo arrastar as águas de todas as estações
Sobre o imenso charco das pedras calcinadas.

Saturday, June 09, 2007

... à espera


Sabias, se me escutasses, que aguardo o verão com a ansiedade do guerreiro na hora da batalha ou o desassossego da adolescente antes do grande encontro; como se tivesse estado de joelhos, durante toda a noite, atenta ao murmúrio do oráculo e fosse agora o momento de desvendar o enigma.

Sabias, se me adivinhasses, de uma existência mais do que escrita nas folhas de um caderno ou de um palavrear de insatisfação em linhas curvas; como se as palavras fossem eu e quisessem vida depois de anos amarradas aos cabelos da esfinge, exposto agora o desejo à nudez do amanhecer.

Sabias, se me visses, do viço dos rebentos em vésperas da floração, ou da energia de uma estrela mal pousada no espaço, a querer abraçar a terra; como se o romance não tivesse ainda começado mas o seu halo já pairasse por cima da pose inquieta e do fogo a arder nos lábios.


Thursday, June 07, 2007

olhos de ver camomilas



Dá-me, menina, os teus olhos
que os meus ficaram fechados
no lado de lá do tempo

e dá-me a cor dos teus passos
nas escadas do futuro

e a força viva que trazes
agarrada aos pensamentos

e mais a garra que imprimes
à paleta dos teus sonhos

dá-me, menina, o sentido
de sentir-te menos triste
depois dos dias cinzentos