Não, não vou outra vez queixar-me do meu dia-a-dia de professora. Andamos fartos de queixas e não é por aí que vamos mais longe. Afinal todos nos queixamos um pouco do trabalho que fazemos, neste país que em vez de nos incentivar só nos desvaloriza e nos impede a realização profissional.
Venho apenas dizer que é muito mau que os profissionais portugueses de qualquer área queiram e façam gosto em progredir nas suas carreiras, sejam elas quais forem, e acabem num lamaçal pouco dignificante que, imposto a partir do topo, lá onde se situam aqueles em cujas mãos deus depôs o poder, tem um único objectivo: dividir para reinar. (para não falar naqueles que querem trabalhar e só encontram portas fechadas ou naqueles que têm trabalho hoje e amanhã, à chegada, já lá não está nem o sítio!)
Era para vir falar disto com o mesmo sentido de humor que li aqui mas confesso que não fui capaz, até porque depois de um texto escrito assim não se sabe fazer melhor.
Em complemento e para não ser eu a dizer o mesmo que muitos já estão fartos de ouvir, recomendo também que ouçam esta crónica.
Não, não é corporativismo. Não me apoquenta só o meu grupo profissional. Tudo isto é a parte de um todo que se chama estratégia, ou o que lhe quiserem chamar... estratégia para, no dizer do primeiro-ministro deste país, aumentar o desemprego em apenas quatro décimas (o melhor número dos últimos anos...), porque fechando maternidades, urgências, centros de saúde, esquadras de polícia e extinguindo serviços e postos de trabalho consegue-se, no dizer do iluminado, mais e melhor emprego, mais e melhor nível de vida.
E eu, que nos últimos cinco anos tive de ser sujeita a uma intervenção cirúrgica, tive problemas nas cordas vocais e tive filhos doentes... já não posso progredir na carreira. Aliás qualquer professor que tenha casado, que tenha tido filhos, que tenha “gozado” de três dias por morte de um familiar, que tenha estado verdadeiramente doente, como é comum acontecer pelo menos uma vez na vida de cada um, nunca deixará de ser um funcionário público menor. Com a vantagem de poder ser acompanhado a casa por um Encarregado de Educação de arma em punho.
Policiamento? Para quê? O Estado tem de diminuir a despesa... foi o que mais ouvi ontem no discurso e depois na “guerra” de palavras que encheu o Parlamento.