Monday, February 27, 2006

borboletas em volta de molduras vazias


Lembro-me sempre dos dias em que vinhas carregado de palavras
E eu te ouvia pela madrugada
Era como se fosses barco e trouxesses contigo o vento
Ou os salpicos de espuma sobre a promessa do tempo eterno
Pousava o braço no calor da tua pele e acreditava
Que a viagem seria longa.
Lembro-me também das borboletas nos jardins
E até do aroma das árvores que costumavam abrigar-nos
Quando éramos muito novos e descobríamos sempre o lado de lá dos espelhos.

Se abrir as gavetas encontro ainda as imagens
Guardei-as sem ordem
Para não ter de encadear o tempo dentro dos olhos;
Mas isso é nos dias em que me sento ao lado da memória
E dou comigo a questionar todas as razões.
Agora, sem mapa que me leve ao rumo inicial
É nas minhas mãos que leio a geografia alternativa.

Friday, February 24, 2006

Uma questão de olhar


Vagueio sempre sobre ruínas descarnadas
Enquanto as pérolas caem das folhas
Depois de uma noite invernosa.
Gostava de saber olhar o dorso de uma nuvem
Ou o levantar de uma maré de Agosto
Sem que os olhos duvidassem.

Tuesday, February 21, 2006

A Comemoração (3)

(continuação)
Deu mais um jeito aos livros na estante deixando bem destacados os mais importantes: “Estratégias de sucesso”, “Transcendências do Real”, Interpretação dos sonhos”, “Seja o seu próprio astrólogo”, “Musculação em casa”, “Dietas fáceis” e aqueles volumes encadernados do diário, a que chamou “A História”, registadas lá todas as injustiças do mundo, todas aquelas que sobre si haviam recaído. Um dia, quando fosse a altura certa, saberiam os pormenores da conspiração de que tinha sido alvo. Um dia. Mas ainda não era a altura certa, ainda não. Nesta altura, apenas mais um whisky.

Talvez o Esotérico dirigisse o olhar para aquele sítio, mal entrasse na sala. Era quem mais tinha a ver consigo. Perdiam-se em exotismos escritos à vez no teclado; eventualmente iria trazer-lhe um livro como prenda, era o que ele dizia fazer sempre que marcava encontro real com alguém de interesses afins. O Poeta entraria a declamar Pessoa, tão ao seu gosto, como fazia sempre que entrava no espaço virtual, perante discussões acesas, acalmando os ânimos nos chats.
Que diabo, lá estavam outra vez as mesmas marcas nos copos. Isso irritava-a, não conseguia descodificar os sinais, mas o pano iria pôr os cristais a brilhar mais uma vez. Antes do pano, porém, copiou-os de novo para se lembrar depois. Eram iguais aos outros que acabara de limpar no chão do terraço. Alguém lhe entrava em casa para ter o prazer de a sujar! Tinha de ir à polícia outra vez.
Estava a ficar farta de tantas contrariedades. No escritório era o mentecapto do Félix, estava certa de que era ele que liderava todo o grupo. Congeminou que iria pô-la doente. Que mal lhe fazia que estivesse sempre a ir à casa-de-banho se não havia ninguém mais metódico e organizado do que ela. Lá porque precisava de lavar constantemente as mãos, abençoadas com a água limpa, seguida do creme hidratante, cheiroso e macio, para disfarçar o cheiro da lixívia com que as desinfectava, só tinha mesmo de as lavar. Só assim se sentia bem consigo.
Porém, sorria ao lembrar os amigos que estavam para chegar. Esses eram feitos de outro barro; estes sim, valiam a pena. O Viktor37 devia ser o primeiro, sempre tão correcto e tão floreado na conversa, que homem! Punha sempre florzinhas e sorrisinhos no meio das palavras escritas. Por ele e por outros como ele é que valia a pena aquele esforço, aquele arredar das preocupações, aquela leveza no pensar.
Acabara-se a serotonina, Doutor Rocha – pensava exaltada – e a fluoxetina, e as benzodiazepinas e essas coisas que a tinham mantido atordoada todos estes anos. Acabaram-se as consultas! Acabara-se a necessidade de controlar a melatonina porque a epífise cerebral entrara em auto-regulação. Abençoado ConfidenteWeb que tantas coisas ajudou a perceber. E o SagitárioHLx, que lhe estimulara a adrenalina em licenciosas aventuras virtuais. Todos convidados para a sua comemoração.

Passava muito da hora marcada.
Mais uma vez viu-se ao espelho. Mais uma vez as marcas? Também no espelho, as marcas? Não compreendia essa perseguição, essa mania de lhe entrarem em casa para riscar chão, paredes e espelhos. Nem os copos escapavam. Tinha de limpar tudo. Tinha de limpar tudo. Tinha de limpar e voltar a limpar tudo.

Mas antes, mais um whisky para a nova mulher que continuava à espera dos melhores amigos virtuais do mundo para a comemoração da cura.

Fim

Monday, February 20, 2006

A Comemoração (2)

(continuação)
As garrafas de champagne que cuidadosamente refrescara para dar prazer a quem consigo quis ser solidário, amigo, companheiro, continuavam no seu lugar, transpirando gotas que iam deixando na mesa um laguinho. Seria melhor voltar a colocá-las no frigorífico? O tempo estava a passar e ninguém chegava. Mais um jeito na decoração. Tudo devia estar perfeito.
Que recordação boa a do cansaço do dia anterior. Preparava, havia uma semana, todos os detalhes e com as compras arrumadas no carrinho do supermercado, na véspera, ainda olhara de soslaio a menina da caixa, quando lhe perguntou se eram mesmo doze garrafas, respondendo-lhe, com o tom de voz mais afirmativo que usava nessas circunstâncias, “são mesmo doze, minha senhora”. Ainda ia sair-lhe um “porquê?” irónico, mas essa contenção, sinal da sua mudança, valeu-lhe uma melodia vitoriosa, no regresso a casa. Sim, que ela cantava, quando as coisitas complicadas do dia-a-dia a descontrolavam. Anteriormente devorava cigarros, misturados com exacerbações verbais ou escritas no espaço virtual, para quem a quisesse ler. Agora estava curada dessas impetuosidades e por isso precisava de comemorar. Estava deveras cansada, precisava de uma bebida. Desde as oito da manhã envolvida na tarefa deliciosa de decorar a sala, balões e fitas, na mesa a toalha de linho mais bonita e sobre ela as travessas com as iguarias que acompanhariam a bebida, muita bebida que a festa queria-se animada! Andava numa verdadeira roda-viva. Sozinha, claro! Ajudas para quê, quando todos chegassem iriam dar-se conta de ter entrado num mundo perfeito e elogiar a sua capacidade organizativa.
Fez questão de acabar tudo antes da hora para ter tempo de se sentar a apreciar a sua obra, antecipando o prazer da companhia, das vozes, do fumo do tabaco e do tinir dos cristais, entre as gargalhadas. Mas agora reparava que o tempo continuava a passar sobre a hora marcada.
Estão para chegar amigos sérios – pensava – que não esboçam um gesto de traição nem sequer de censura; que tão bem compreendem outro e não questionam, não troçam, não conspiram. Cada um no seu espaço, cada um no seu teclado, cada um na sua casa. Cada um cumprindo um tema de conversa, sem equívocos.

(continua)




Sunday, February 19, 2006

A Comemoração (1)

Preparou aquele dia com o cuidado que punha em todas as coisas, tanto mais que atravessava um momento decisivo na sua vida e disso queria dar testemunho quando todos estivessem presentes. Eram vinte os convidados, vinte. Para eles memorizara as duas páginas que tinha redigido com desvelo e sem esforço. Nos seus planos essas duas páginas seriam o capítulo final de um livro que estava certa de ver nas prateleiras das livrarias; não teria dificuldade em ser aceite e lida por todos aqueles que buscassem amparo e definição de caminhos; os que, como ela, comungavam das dores do abandono e do convívio com a loucura.
Preparara o momento da comemoração convicta de que o acontecimento ficaria para sempre guardado na memória dos que nela estivessem presentes. Eram vinte pessoas, vinte, e o espaço era mais do que suficiente, abrindo as portadas para o terraço, onde tinha posto flores em todos os tons de rosa, vasos e jarras, cestos e arranjos vários, viçosas flores que se espelhavam no ladrilho mil vezes lavado, malditas marcas – pensava – que apareciam sempre, depois de cada lavagem, parecendo resistir à sua força. Quem andaria a riscar no chão estes sinais estranhos? – intrigava-se.
Talvez pensasse nisso mais tarde, agora não podia perder tempo, eles deviam estar a chegar.

(continua)



Thursday, February 16, 2006

Lamentações

Há dias em que conseguimos pôr os olhos a girar e abençoamos o sol. Somos como a terra em desejos cíclicos de renovação. Mas não conseguimos evitar madrugadas frias. E se fechamos os olhos nem sequer é para conservar o calor do lado de dentro. É porque nem as ondas cadenciadas, nem a cobertura verde sobre os montes, nem as asas de um pássaro solto, nem a verticalidade de um pinheiro, nem as vozes risonhas das crianças, nem a forma das nuvens toca o nosso imaginário empobrecido pelas paisagens sujas. Nesses dias que depois se fazem anos.
Quando temos palavras para dizer desagrados, apenas comunicamos. Nada se resolve. Depois pensamos que não há nada para resolver e que não há seres humanos conformados. Basta passar os olhos por este mundo de vozes sem rosto que nos habituaram às palavras; e de imagens-mensagens-anónimas, embora saibamos das mãos que as fixam e as projectam. O resultado é este mar de lamentos. Mesmo nos outros que, à séria, escrevem crónicas oportunas e interessantes sobre as coisas que se passam, encontramos o tom lamentoso. (Teríamos que analisar as excepções, que são poucas e enumeráveis, mas hei-de voltar ao assunto). Às vezes gostamos de partilhar o prazer de um livro, de um filme ou de uma brincadeira. Ou de uma ficção que os outros lêem como coisa sua, identificando-se com as nossas personagens. Não sei por que o fazemos.
Partilha? Pedido público de socorro?
Que mundo é este que nos ultrapassa e é pequeno ao mesmo tempo? Que temos para receber dos outros? E damos? E quem dá o quê? E que coisas valem a pena? E com que palavras dizemos o nosso lado de dentro de forma a limparmos a ansiedade, o medo, a tristeza, a frustração e o desânimo?
E para quê, se sabemos da existência de todos os contrários?

Devo ter fugido ao assunto, mas acho que vinha aqui hoje para falar de lamentos. E do sentido lamurioso que é o nosso, o dos portugueses. Ou o de todos os cidadãos do mundo. Talvez porque todos os dias sei de mais alguém que recorreu à psiquiatria.

Monday, February 13, 2006

Dança Primavera, dança!


Deitei-me na areia e disse ao Sol que me despisse.
Distraída, a brisa despenteou-me e dei comigo a dizer baixinho: dança Primavera, dança!
Depois os deuses foram descendo, devagarinho, em direcção à margem e raiaram destros por dentro do desassossego dos dias densos. São sempre detestáveis os lados de dentro quando estão delimitados. E demorados. Por isso me deliciei quando o sol se descobriu e me acenou redondo.
Creio que adormeci, entorpecida pela doçura do gesto solar sobre o desânimo.
Dancei, decerto, já desagravada. Depois dançaram sobre mim dezenas de duendes, desenhando círculos. Doce devaneio à beira-mar. As ondas dobravam-se de mansinho dialogando em desafio modesto. Melodia difusa a das águas. Mas sólida.
Lembro-me ainda do horizonte renovado ao acordar: de um lado o azul dançando sob o reflexo doirado; do outro os verdes irrompendo por toda a dimensão da serra.

Friday, February 10, 2006

Os dias

Risco os dias outra vez. Risco a vontade, a força, a esperança, a persistência.
Depois lido com as sobras a montante e estilhaço-me em fragmentos aguçados.
Limpo o sangue. Forço um sorriso no espelho e ele devolve-mo triste.
Procuro as causas, as razões, as justificações. Podem ser as falas, as que as vozes deixaram nos ouvidos e as outras que não tiveram voz nem tempo. Podem ser as memórias que vêm sempre tocar os dias invernosos. Podem ser as correrias, as loucuras, os anos que passam, as rugas que aparecem e se disfarçam com o cuidado das manhãs que prometem dias, às vezes noites. Recuso depois as noites e fecho-me nos dias. Dias a fio. Dias em que o cinzento vem do céu e toca o chão e eu lá dentro sem janela de fuga porque as encerro. Envolvo-me em neblina e gelo. Digo que pode ser da chuva, desta chuva que gela os ossos e os pensamentos quando o riso afrouxa. Dias houve em que as gotas na janela me inspiraram. E me enlevaram. E me sugeriram o conforto da companhia colada à pele mesmo que ausente. O frio não vem de fora, repito. É do riso frouxo, do riso que já não mora nesta casa e me surpreende quando, como ontem, alguém ri e eu observo, estranha, depois de muitos dias sem saber onde mora a vontade de acordar.
Resisto ainda um pouco. Não, não vou precisar de ajuda, isto compõe-se.
Depois pergunto-me se há um lugar da casa onde procurar conforto como menina em busca de colo. E vou. E lembro-me, exactamente no mesmo instante, que estou a riscar os dias e a vontade e a força e a persistência. E que as sombras se estilhaçam para dentro e me ferem sem razão.

Thursday, February 09, 2006

Hefestos



Vinhas como se fosses fogo e eras luz.
Recordo-te na pressa; revejo-te no sonho.
Trazias nos olhos um firmamento de palavras novas.
E eu nos meus o espanto.

Faminta, pus nos dias a forma dos sentidos
E espelhei-me neles sem aguardar. O mundo pertencia-me.

Recordo-me perdida num caminho em que o medo se cruzou com o amanhã;
Revejo-me nos lugares da hesitação.
Fingimento eterno este, o de querer acreditar.

Vi-te depois erguer a chama noutra direcção, enquanto me olhavas.

Wednesday, February 08, 2006

O beijo

Trouxe-te o beijo, Mixtu.



Também sei o que é beijar uma estátua
e colher o frio da representação do beijo ao dar-me em fogo.

Do outro lado o deus em pedra concede um minuto e depois parte.

Boca para beijar.
Boca para calar, depois de dizer que o beijo é quente
e dói dizer que depois gela

Também sei de uma mão redonda sobre as coxas
e de uns lábios colados nos meus lábios.

Promessa.
Desenho de presente em tempo incerto;
Desejo de futuro e depois nada.

Tuesday, February 07, 2006

Coisas estranhas

Sou uma pessoa normal. É isto que te digo, menina sem cantigas , que me desafiaste a esta exposição pública.
Tão normal como todas as outras pessoas e, por isso, com as minhas estranhezas que, por serem normais, me aparecem como coisas que são de mim e que sou eu. Contudo, às vezes são sem graça. Ou é assim que eu acho, porque me queria outra. Mas nem sempre… há dias em que me gosto.

E…

1. Tenho a lágrima fácil. Detesto ser assim porque dou comigo embargada à mínima coisa, seja de alegria seja de tristeza. Mas agora já não disfarço, pronto!
2. Gosto de fazer tudo muito bem feitinho mas sou desorganizada e depois ando sempre a dizer que não sou capaz, etc.
3. Passo a vida a “arrumar” a secretária mas nunca encontro as coisas quando as procuro;
4. Sou acelerada no ritmo: em alturas de nervosismo começo a falar tão depressa que os outros têm de fazer esforço para me perceberem (acho que isso já não tem remédio);
5. Não tenho paciência para ouvir pessoas que relatam tudo com detalhes e demoram o dobro do tempo que eu levaria a contar o mesmo;
6. Tenho dificuldade em lidar com as coisas do passado. E elas estão sempre atrás das portas, que não sei fechar;
7. Os desafios sorriem-me. Raramente lhes volto as costas, havendo umas alturas melhores que outras;
8. Embirro com o Outono. E ele comigo;
9. Fico insuportável nas vésperas de qualquer coisa que foge do trivial, embora vá dizendo que gosto de quebrar rotinas;
10. Não gosto de pedir nada a ninguém. É por isso que tenho sempre o dobro do trabalho… mas também isso já não tem cura!

E sei lá que mais! Haverá tantas outras coisas que os outros vêem e eu não!

E agora, menina JP , menina Leo, senhor Carlos e senhor Zumbido ... é a vossa vez.

Sunday, February 05, 2006

Cliohres.net - TWG6 meeting


Havia todo um conjunto de questões ligadas às historiografias de cada país. E nem aí os conceitos eram os mesmos, embora a linguagem encontrasse tópicos comuns e pontos de contacto. Foi curioso ouvir russos e húngaros ligados a concepções de raiz marxista ou, pelo menos, reportando-se a essas perspectivas de abordagem como fazendo já parte da História.
Curiosos também os estudos dos grandes movimentos populacionais que os eslovenos mostraram com mapas e números.
Mas a maioria situou as pesquisas nas tendências imperialistas que o velho continente manifestou ao longo da História, quer em períodos expansionistas, naturalmente importantes para a compreensão do presente, quer exactamente no presente, sendo aí privilegiada a visão das heranças coloniais. Para o bem e para o mal.
Os belgas pareceram apreciar o (seu) património colonial desmontando-o à luz de uma visão antropológica naturalmente construtiva. Os espanhóis deixaram a visão do eu e do outro em imagens interactivas, lembrando, com muito humor, as distorções que certa história às vezes força esteriotipando países e populações (lembrava-se a identificação do espanhol com o toureiro a partir de Gustavo Doré).
Os ingleses não abandonam, em circunstância alguma, a sua postura egocêntrica e dominadora menosprezando todos os outros períodos e espaços coloniais. E eles existiram.
Também tivemos o nosso e a minha questão reside aí: como é que o reino mais rico do mundo ocidental se via a si próprio por alturas da sua “idade de ouro”? Como se afirmava perante uma Europa que circulava por Lisboa em busca das mercadorias cujo monopólio nos foi permitido pelo desenho concretizado da Rota do Cabo? E como passou, na historiografia portuguesa, a visão do reino e do rei? Uma imagética que o século XIX exultou e que o Estado Novo dimensionou como doutrina. E que depois a mudança desvalorizou, quando falar em descolonização era falar em revolução e vice-versa. Terei de explorar esses ecos.
Questões abertas quando se procura em grupo, estudar as relações entre a Europa e o Mundo.

Depois há o confronto. Ou os confrontos. A frieza dos europeus do Norte em contraste com as conversas mais soltas dos Ibéricos que interagem com palavras que soam bem. Mesmo à mesa ou à volta da diversidade de cervejas belgas, as diferenças coexistem embora se dissipem com a climatização dos interiores. Do lado de fora o frio e a humidade escurecem as construções. Porém, não lhes retiram o brilho.
Gostei de Ghent. Mas estou cansada.