Todo o mundo foi feito de amores imperfeitos
Quer na violência de braseiros desvairados
Quer no gelo de retratos escondidos
Por detrás dos rostos;
Houve também no mundo os submissos
Que disseram nomes com a sua voz velada,
E na brancura de cada amanhecer
Esperaram tardes incandescentes que não chegaram;
Outros não se renderam aos desencontros
E puseram urgência nos gestos dizendo
Todas as palavras; esses aproveitaram os ventos
E abriram as ondas em espumas que sulcavam
As redes abertas ao correr das águas.
Dizem, meu amor, que neste verão
Todas as árvores tombarão em chamas
E que as chuvas, guardadas, deixarão secar
Todos os pomares, e com eles os pássaros.
Saberás, quando chegar esse calor,
Da a violência de um braseiro
Que eu queria ter apagado
A tempo de cheirar o musgo e as folhas dos sobreiros
Sem que o tempo me deixasse arrefecer;
Nada me pertenceu, nem o tempo
Nem sequer os teus olhos fugitivos,
Ou os braços com que enlaçaste a tua solidão (ou a tua solidez).
Derrama a água do teu gelo sobre esse chão seco
E faz nascer o verde sobre a areia
Que eu soltei do vidro
Onde o tempo se escoava.
Post -9
5 months ago
No comments:
Post a Comment